Matilde por Leonardo Cribari

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

FUNERAL BLUES

Ele dispensa apresentações.
Amor antigo, companheiro de tantas histórias.


FUNERAL BLUES

Stop all the clocks, cut off thr telephone.
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let airplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He is Dead,
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policeman wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.

The stars are not wanted now; put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood;
For nothing now can ever come to any good.

W. H. Auden (1907 - 1973)

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

RIFA-SE UM CORAÇÃO





RIFA-SE UM CORAÇÃO
Clarice Lispector





Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.


Rifa-se um coração
que na realidade está um pouco usado,
meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos,
e cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente
que nunca desiste de acreditar nas pessoas.





Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia estava certo
quando escreveu...
"não quero dinheiro,
eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista...
Um verdadeiro sonhador...





Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece,
e mantém sempre viva
a esperança de ser feliz,
sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida
que vive procurando relações
e emoções verdadeiras.





Rifa-se um coração que insiste
em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo
em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado. Tantas vezes impulsivo.





Rifa-se este desequilibrado emocional
Que abre sorrisos tão largos
que quase dá pra engolir as orelhas,
mas que também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.





Um órgão abestado
indicado apenas para quem
quer viver intensamente
E contra indicado para os que apenas
pretendem passar pela vida
matando o tempo,
defendendo-se das emoções.





Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro
na hora da prestação de contas:
" O Senhor poder conferir",
eu fiz tudo certo,só errei
quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi
este louco coração de criança
que insiste em não endurecer
e, se recusa a envelhecer".





Rifa-se um coração,
ou mesmo troca-se por outro
que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito
que não maltrate tanto
o ser que o abriga.
Um coração que não seja
tão inconseqüente.





Rifa-se um coração
cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras
que, ainda não foi adotado,
provavelmente,
por se recusar a cultivar
ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.





Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.





Um velho coração
que convence seu usuário
a publicar seus segredos
e, a ter a petulância
de se aventurar
como poeta.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

ENCONTROS


Um fato é certo: Estou novamente com ganas de escrever.
Querer compartilhar pensamentos, sentimentos, histórias, me faz sentir gente.
Me faz senti viva.
Escrevo como falo, construo histórias como se estivesse na mesa de um bar conversando com amigos, longe das régras literárias.
Apenas conto...
É nesse espírito que quero falar dele. Outro Capitão.Não dos mares de acolá. Mas Capitão dos sentidos.
Ele é minha nova paixão.
Seu nome: Beethoven.
Sei, esse papo de música erudita parece cansativo, lugar comum.
Mas o que quero falar aqui não é nenhum tratado técnico (mesmo porque não tenho conhecimento para tal).Mas sim, desse meu novo/velho encontro com ele.
Tudo começou numa noite de chuva, nada para fazer.
E aí?
Corro numa locadora para ver as novidades e me deparo com o filme “O Segredo de Beethoven.
Adimito que só loquei o filme porque quem fazia o papel principal era Ed Harris, que adoro de carteirinha. Mas, para minha grande surpresa, fiquei apaixonada. No começo não sabia dizer se por Ed ou por Beethoven.
Mas aquela música (que conhecia, só não identificava de quem era), não me saia da cabeça.
Passam os dias, e corro nas lojas da cidade a procura do disco com a Nona Sinfonia. Não achei, e caiu no esquecimento.
Tenho que contar também, que estou vivendo uma nova pessoa em mim. Não desconhecida, mas apurada. Talvez por isso só agora tenha tido encontros maravilhosos como esse.
Sinto que se fez necessário percorrer todo um caminho, de risos, de choro, de alegrias, de sentimentos, para poder está aqui hoje, ligar o som no volume quase máximo (Olha os vizinhos!) e poder entrar nessa música com os sentidos apurados.
As vezes penso que estou enlouquecendo, mas se isso é loucura, eu quero!
Hoje consegui encontrar o disco. E não me contive. Tive que escrever. Quero dividir!
Deixo aqui um pouco sobre ele (muito pouco, diga-se de passagem).
Minha fonte de pesquisa, a wikipédia. Salvadora de todos os assuntos!
Espero que gostem!



“Não o percam de vista, um dia há de dar o que falar”
(Wolfgang Amadeus Mozart)

É assim que quero começar a falar dele. Não por minhas palavras, mas pela de outro, nada mais que Mozart, ao conhecer Beethoven , aos 17 anos em Viena.
Ele nasceu em Renania do Norte ( Alemanha, precisamente Bonn) em 17 de Dezembro de 1770.
Sua família tinha origem flamenga. Filho de Maria Madalegna Kewerich, filha das chefs de cozinha do príncipe da Renania e de um músico alcoólatra, Johann Van Beethoven, Teve seis irmãos, dos quais apenas dois chegaram a idade adulta.
Tinha como hábito despejar água fria na cabeça, para despertar o cérebro.
Por volta dos 24 anos, sente os primeiros sintomas de surdez. Apesar de feito todos os tratamentos disponíveis na época , aos 46 anos estava praticamente surdo.


“Embora tenha feito muitas tentativas para tratá-la durante os anos seguintes, a doença continuou a progredir e, aos 46 anos (1816), estava praticamente surdo. Porém, ao contrário do que muitos pensam, Beethoven jamais perdeu toda a audição, muito embora não tivesse mais, em seus últimos anos, condições de acompanhar uma apresentação musical ou de perceber nuances timbrísticas. Em sua obra 'Uma Nova História da Música', Otto Maria Carpeaux afirma que Beethoven assistiu à primeira apresentação pública da sua 9ª Sinfonia (ao lado de Umlauf, que a regeu, como ficou registrado por Schindler e mais tarde por Grove), mas abstraído na leitura da partitura, não pôde perceber que estava sendo ovacionado até que Umlauf tocando seu braço, voltou sua atenção à sala, e Beethoven se inclinou diante do público que o aplaudia. De 1816 até 1827, ano da sua morte, ainda conseguiu compor cerca de 44 obras musicais.
Depois de 1812, a surdez progressiva aliada à perda das esperanças matrimoniais e problemas com a custódia do sobrinho o levaram a uma crise criativa que faria com que durante esses anos ele escrevesse poucas obras importantes.
A partir de 1818 Beethoven, aparentemente recuperado, passou a compor mais lentamente, mas com um vigor renovado. Surgem então algumas de suas maiores obras: Sonata nº 29 em Si bemol maior op.106 [Hammerklavier] (1818), Sonata nº 30 em Mi maior Op.109,
Sonata nº 31 em Lá bemol maior Op.110 (1822), Sonata nº 32 em Dó menor Op.111 (1822), Variações Diabelli Op.120 (1823), Missa Solemnis Op.123 (1823). A culminância desses anos foi a Sinfonia nº 9 em Ré menor Op.125 (1824), para muitos a sua obra-prima. Pela primeira vez é inserido um coral num movimento de uma sinfonia, inserida a voz humana como exaltação dionísica da fraternidade universal, com apelo à aliança entre as artes irmãs: a poesia e a música. . O texto é uma adaptação do poema de Schiller “Ode à Alegria”, feita pelo próprio Beethoven.


Sua influência na história da música foi imensa. Beethoven começou a compor música como nunca antes se houvera ouvido. A partir de Beethoven a música nunca mais foi a mesma. As suas composições eram criadas sem a preocupação em respeitar regras que, até então, eram seguidas. Considerado um poeta-músico, foi o primeiro romântico apaixonado pelo lirismo dramático e pela liberdade de expressão.
Ao morrer em 26 de Março de 1827 estava trabalhando supostamente em uma décima Sinfonia. A suspeita vem por causa de vários "S" escritos como identificação nas partituras encontradas. Conta-se que cerca de dez mil pessoas compareceram ao seu funeral. Entre os presentes, Franz Schubert.”


9ª Sinfonia
Letra

Oh amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais prazeroso
E mais alegre!

Baixo, quarteto e coro
Alegre, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu.
Todos os homens se irmanam
Ali onde teu doce vôo se detém.
Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!
Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma,
Uma única em todo o mundo.
Mas aquele que falhou nisso
Que fique chorando sozinho!
Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até a morte;
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim que se ergue diante de Deus!


Tenor e coro
Alegremente, como seus sóis corram
Através do esplêndido espaço celeste
Se expressem, irmãos, em seus caminhos,
Alegremente como o herói diante da vitória.

Coro
Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado.
Milhões se deprimem diante Dele?
Mundo, você percebe seu Criador?
Procure-o mais acima do Céu estrelado!
Sobre as estrelas onde Ele mora!

domingo, 11 de novembro de 2007

Curiosidades - I

"SEGURAR VELA"

Dito é popular desde a Idade Média.
Quando não existiam as lâmpadas - que podiam ser alimentadas por óleo de baleia ou gás -, as velas eram a principal fonte de luz. Por isso, na Idade Média, os iniciantes em todo tipo de trabalho braçal seguravam velas para que os mais experientes enxergassem o que faziam.Em teatros e outros lugares que funcionavam à noite, por exemplo, haviam garotos acendedores de vela. Em francês, uma das explicações da expressão ("tenir la chandelle") se refere a criados que eram obrigados a segurar os candeeiros durante as relações sexuais de seus patrões e se manter virados de costas para não ver o que acontecia. Entre 1500 e 1600, "segurar vela" passou a significar "ajudar em uma posição subordinada, desconfortável". Com o tempo, serviu para designar a amante de um triângulo amoroso, e, mais recentemente, o amigo solteiro que acompanha o casal.

Aventuras na História - Edição 51 - Novembro - pag 19

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Conto de Natal

Por mais que se discutam datas, seus reais valores, significados e tudo o mais que possa caber nesse assunto, e por personalidade detestar data marcada, hora marcada, dia disso e dia daquilo, ou qualquer coisa que de leve se assemelhe a “obrigação de”, devo dizer que as datas de finais de ano sempre tiveram um significado lúdico e fantasioso para mim.
Na minha infância, isso há trinta e poucos anos atrás, fui privilegiada por pais, nesse caso, mais especificamente por uma mãe que bebia do mundo. Morávamos em Recife, então “cidade pequena, porém decente”.Televisão colorida era a grande novidade tecnológica, e nós colocávamos papel celofane colorido para que ela saísse do preto e branco e adquirisse uma outra coloração! Bons tempos.
A programação da TV chegava do eixo Rio-São Paulo com alguns dias há mais de diferença.
Ir a Penedo, na beira do Rio São Francisco era uma viagem do outro mundo...Levávamos horas para chegar.
Meu pai representava (até hoje representa) uma firma de aparelhos topográficos da Suíça, e por isso ia com certa freqüência àquele país, inclusive morando lá por uns tempos.
Minha mãe, mulher com antenas parabólicas afinadíssimas e com sede de conhecimento, já nessa época, acompanhava meu pai em suas constantes viagens a Europa.
Fomos criados, meio que peixes fora d’água, pois a cada viagem de meus pais, minha mãe retornava cheia de entusiasmo com a cultura do mundo lá fora, e criava seus filhos cheios de novidades.
Lembro-me bem, que ela criava cardápios da semana culturais. Comíamos as comidas típicas de determinado país, ela nos ensinava algumas palavras do idioma, contava suas histórias, costumes, como eram as crianças. Nós, pequenos, ficávamos encantados com tantas novidades.
Uma vez ela nos vestiu de japoneses. Os quimonos eram duas toalhas de banho: Uma enrolada na cintura e outra passada sobre os ombros, e traspassada na frente. Era uma maravilha. Não queríamos mais retirar nossos trajes japoneses!
Dentro desse espírito, e com muitos amigos feitos mundo a fora, os finais de ano eram datas mais do que esperada por nós. Não pelos enfeitas da casa, ou presente de Papai Noel, pois fomos criados dando valor a outras coisas, mas por uma caixa que religiosamente nos chegava em meados de Novembro.
Vinha da Suíça, toda embalada, e com cheiro de Europa.
Adelaide, amiga suíça de minha mãe, nos mandava preciosidades. Ela reunia ali dentro todo o ritual que uma criança de sua terra fazia nas festas Natalinas. Vinha estrela de vidro para pendurar nas janelas, meias de lãs para a lareira (que lareira?) lembrancinhas para nós, doces típicos da época... E o principal, aquilo que minha mãe todo ano fazia suspense, e nós ficávamos apreensivos pela sua aparição: Um calendário. Não um calendário qualquer. Mas um que era uma cartolina grande, com uma cena natalina bem européia, e com 25 janelinhas, que eram abertas uma a uma nos dias de Dezembro. Aquilo era um sonho...Brigávamos eu e meus dois irmãos para ver quem abriria as janelinhas, quem se acordava primeiro...Os calendários de Adelaide eram maravilhosos.

Essa lembrança sempre andou comigo, e todo final de ano, eu me lembro do calendário. Sonhava em ter um Natal com neve, com aqueles enfeites maravilhosos, com meias e lareiras, com frio, em comprar um pinheiro de verdade para enfeitar...
Os anos se passaram e fui eu um final de ano para uma terra maravilhosa, de uma luz encantadora, de cheiros espetaculares...Era Dezembro, fazia um frio de trincar os dentes, mas o céu era de um azul verão extraordinário. Passaria um mês por lá, e coincidiria com o Natal. Não criei expectativa, o calendário estava guardado e adormecido em algum lugar da memória.
Os dias foram passando, e o clima de Natal começou a chegar.
Primeiro, fui surpreendida com a notícia. “Precisamos sair para comprar nossa árvore”. Meus olhos pularam, meu coração começou a bater descompassado. Era aquilo mesmo que eu estava ouvindo?.Compraríamos uma árvore de verdade? Não cabia em mim...fiz questão de ir para ajudar na compra da árvore. Escolher, carregar, ou qualquer tarefa que sobrasse para mim....
Como se os deuses estivessem me ajudando, a sala na qual a árvore ficaria tinha uma lareira, bela, já com os preguinhos para as meias!
Meu calendário de Natal estava se formando, e eu, como criança boba estava novamente abrindo janelinhas, pois a cada dia tinha uma novidade.
Quando eu achava que ele já estava completo, falaram-me de preparar “O Nascimento”. Para isso precisávamos colher musgos para enfeitar.
O Nascimento, que para nós é Lapinha ou Presépio, era de uma construção bem complexa, pois além das figuras de Maria e José, dos Reis Magos e do Menino Jesus, tinha toda uma população de bonecos, e um cenário incrível , com céu estrelado, riachos com quedas d’água, cacimbas, musgos maravilhosos nos jardins, montanhas feitas com casca de árvore.Um sonho!
Nossa noite de Natal foi divina, divina mesmo!
Nesse dia, tive certeza que Papai Noel existe, e que meu calendário fantástico me guiou até ali.
Hoje, já próximo de mais um final de ano, trago comigo o calendário e o Natal do “Nascimento”.

Aos meus amigos Dona Andorinha e Sr. Capitão, por me darem esse Natal maravilhoso.
A minha mãe, por suas “viagens” extraordinárias.

Com amor

Matilde Rodrigues