Matilde por Leonardo Cribari

quarta-feira, 23 de abril de 2008

CONSTRUÇÃO

Primeiro palavras, verbo......
Começa a se formar. Será verdade?
Possibilidades
Pensamentos
Atenção
Flores

Rifa-se um coração
Cuidado!!!
Coração bobo
Sentimento bobo
Cuidado!
Há um aviso na porta principal

E o segundo sol vem chegando,
Os astrônomos disseram
Era um outro planeta!!!!!!

Estranho seria se eu não me apaixonasse por você
Aperto o 12 que é o seu andar
Continuar aquela conversa que não terminamos ontem
E que ficou para hoje.

Corra para a beira da praia e veja a espuma brilhar
Há! Se eu fosse marinheiro.
Ouça o barulho bravio das ondas que batem na beira do mar
Estrelas estão no olhar
De alguém que o amor elegeu para amar
Gente fica brilhando
Estrela da noite

PEDRO, MEU FILHO

Pedro, meu filho...
Vinicius de Moraes
Composição: Vinicius de Moraes


Como eu nunca lutei para deixar-te nada além do amanhã indispensável: um quintal de terra verde onde corra, quem sabe, um córrego pensativo; e nessa terra, um teto simples onde possas ocultar a terrível herança que te deixou teu pai apaixonado - a insensatez de um coração constantemente apaixonado.E porque te fiz com o meu sêmen homem entre os homens, e te quisera para sempre escravo do dever de zelar por esse alqueire, não porque seja meu, mas porque foi plantado com os frutos da minha mais dolorosa poesia.Da mesma forma que eu, muitas noite, me debrucei sobre o teu berço e verti sobre teu pequenino corpo adormecido as minhas mais indefesas lágrimas de amor, e pedi a todas as divindades que cravassem na minha carne as farpas feitas para a tua.E porque vivemos tanto tempo juntos e tanto tempo separados, e o que o convívio criou nunca a ausência pôde destruir.Assim como eu creio em ti porque nasceste do amor e cresceste no âmago de mim como uma árvore dentro de outra, e te alimentaste de minhas vísceras, e ao te fazeres homem rompeste meu alburno e estiraste os braços para um futuro em que acreditei acima de tudo.E sendo que reconheço nos teus pés os pés do menino que eu fui um dia, em frente ao mar; e na aspereza de tuas plantas as grandes pedras que grimpei e os altos troncos que subi; em tuas palmas as queimaduras do Infinito que procurei como um louco tocar.Porque tua barba vem da minha barba, e o teu sexo do meu sexo, e há em ti a semente da morte criada por minha vida.E minha vida, mais que ser um templo, é uma caverna interminável, em cujo recesso esconde-se um tesouro que me foi legado por meu pai, mas cujo esconderijo eu nunca encontrei, e cuja descoberta ora te peço.Como as amplas estradas da mocidade se transformaram nestas estreitas veredas da madureza, e o Sol que se põe atrás de mim alonga a minha sombra como uma seta em direção ao tenebroso Norte.E a Morte me espera em algum lugar oculta, e eu não quero ter medo de ir ao seu inesperado encontro.Por isso que eu chorei tantas lágrimas para que não precisasse chorar, sem saber que criava um mar de pranto em cujos vórtices te haverias também de perder.E amordacei minha boca para que não gritasses e ceguei meus olhos para que não visses; e quanto mais amordaçado, mais gritavas; e quanto mais cego, mais vias.Porque a poesia foi para mim uma mulher cruel em cujos braços me abandonei sem remissão, sem sequer pedir perdão a todas as mulheres que por ela abandonei.E assim como sei que toda a minha vida foi uma luta para que ninguém tivesse mais que lutar:Assim é o canto que te quero cantar, Pedro meu filho...

VIVO

VIVO
(Lenine/Carlos Rennó)


Precário, provisório, perecível,
Falível, transitório, transitivo,
Efêmero, fugaz e passageiro:


Eis aqui um vivo.


Impuro, imperfeito, impermanente,
Incerto, incompleto, inconstante,
Instável, variável, defectivo:

Eis aqui um vivo.

E apesar –
Do tráfico, do trafego equívoco,
Do tóxico do trânsito nocivo;
Da droga do indigesto digestivo;
Do câncer vir do cerne do ser vivo;
Da mente, o mal do ente coletivo;
Do sangue, o mal do soropositivo;
E apesar dessas e outras,
O vivo afirma, firme , afirmativo:
“o que mais vale a pena é estar vivo”

Não feito, não perfeito, não completo,
Não satisfeito nunca, não contente,
Não acabado, não definitivo:

Eis aqui um vivo

Eis-me aqui.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

PARA DONA ANDORINHA

" - Está dizendo isso a sério? - perguntou o capitão.

- Desde que nasci - disse Florentino Ariza - não disse uma única coisa que não fosse a sério.

O Comandante olhou Firmina Daza e viu em suas pestanas os primeiros lampejos de um orvalho de inverno. Depois olhou Florentino Ariza, seu domínio invencível, seu amor impávido, e se assustou com a suspeita tardia de que é a vida, mais que a morte, a que não tem limites.

- E até quando acredita o senhor que podemos continuar neste ir e vir do caralho? - perguntou.

- Florentino Ariza tinha a resposta preparada havia cinquenta e três anos, sete meses e onze dias com as respectivas noites.

- Toda a vida - disse."



O Amor nos Tempos do cólera
Gabriel Garcia Márquez


Com amor


Matilde